A ideia é fantástica. Assustadora, sem dúvida, mas a premissa do livro é atraente especialmente para quem se vê como feminista. Talvez tenha sido por isso que tenha ficado desiludida: em 2019 espero que a literatura feminista se foque nas mulheres e não apenas sobre as mulheres. Sinto que pecou muito por isso, por ter pegado no habitual romance heterossexual, entre coisas relacionadas, como força motora na vida das mulheres, principalmente nas protagonistas das próprias histórias - como é o caso do livro. Isso incomodou-me pois, mais uma vez, as mulheres apresentam-se como elementos secundários mesmo quando o livro é sobre elas e pensando na sua perspectiva.

Fora esta questão, que me levou a baixar a nota de 4 para 3 estrelas após processar o que me estava a incomodar, o livro realmente é capaz de nos levar a sentir raiva do patriarcado porque nada do que é apresentado aqui é incomum ou um exagero: são coisas que acontecem, mesmo no dia-a-dia, de forma frequente e em quase todo o lado. A distopia apresentada está próxima da realidade e nisso o livro é bastante envolvente - de uma forma emocional, até.

Falha, sem dúvida, por cair nos clichés do feminismo branco e heterossexual. Se inicialmente pensava que era uma forma de demonstrar como até na repressão algumas pessoas são privilegiadas, depressa me apercebi - ou senti - que era a autora a ser ela mesma através da personagem. E é necessário começar a dar voz a um feminismo mais interseccional, completo e inclusivo.